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A falta de habitação é dos temas mais preocupantes em Portugal, mas ainda assim esteve ausente do debate dos partidos nas rádios. Há muitos jovens sem possibilidade de pagar uma casa condigna, mas mais vale debater casos e trocar acusações sobre múltiplas matérias distantes do eleitor comum? Houve apenas uma leve referência à necessidade de estabelecer um teto nas rendas, proposta obviamente vinda da Esquerda, mas que já provou dar mau resultado, tanto no mercado do imobiliário como noutros setores (o congelamento do preço dos combustíveis foi desastroso). Não tendo os portugueses qualquer problema em adotar bons exemplos vindos do estrangeiro, vale a pena olhar para o que se está a passar em Barcelona.
Uma vez que a roda livre concedida aos privados deu origem a uma bolha, que um dia poderá sempre rebentar, os poderes públicos resolveram contribuir para a solução. A necessidade de agir rapidamente fez com que a autarquia barcelonesa apostasse na construção industrializada. Na prática, estamos a falar de construir ou reconstruir parte de edifícios em fábricas (fachadas, casas de banho e tetos, entre outros elementos), sendo depois transportada e montada no local definitivo. O resultado: prazos mais curtos e uma produção mais "sustentável", termo apenas usado por um partido durante a campanha das legislativas.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anunciou um investimento de 1300 milhões de euros para o novo Projeto Estratégico para a Recuperação e Transformação Económica da habitação, que visa construir 15 mil habitações usando aquele sistema ágil. Ninguém duvidará que Portugal tem os dois elementos necessários para replicar o modelo: edifícios devolutos do Estado e capacidade técnica para levar a cabo os projetos.